Ao abrir a porta… o34v

Deborah Lislie Diogo de Freitas

Mamãezinha… caminhe no corredor e abra a porta bem devagarinho… em silêncio… Entre comigo em um cenário que transporta até o coração, uma viagem ao tempo… um tempo de 2, 7, 11… 30 anos atrás…


Observe o ambiente. Lembra das cores, do cheiro? Tem alguém dormindo e na sua memória irá conversar com você…
“Pode ser que eu seja o (a) primeiro (a) filho (a) que foi tão aguardado (a), o segundo ou terceiro… caçulinha… mas uma coisa tenho certeza fui desejado a partir do momento que você soube da minha existência…

Deborah com o marido Carlos e os filhos Rebeca e Asafe. Foto: Arquivo Pessoal

Quem sabe soube num susto. Como disse, não importa, houve uma razão muito especial para eu estar aqui e fazer parte da nossa família…
Lembra mamãe quando você começou a organizar minhas coisinhas? A escolha da cor, móveis para o meu quartinho, o bordado da minha fraldinha? Lógico que você sabia o meu nome… sussurrava baixinho, mesmo sem ter a exatidão do ultrassom.


Cuidadosa… desde sempre, pensou até na madrinha ou quem era tão parecido com seu jeito para ajudar a cuidar de mim…
No início eu só dependia unicamente de você… só de você. Amamentou com dores, cansada, sozinha algumas vezes ou muitas vezes…
Precisei de mamadeira, do bico… objetos que ficavam só entre mim e o seu calor… como eu conhecia o seu cheiro… e até hoje eu conheço…
No meu banho estava lá, com sorriso no rosto, nomeando cada parte do meu corpo para eu saber… cantarolava e se molhava comigo…


Ao embrulhar-me na toalha eu sentia a espessura gostosa de uma roupa bem cuidada, aliás, todas as minhas roupinhas eram tratadas com tanto zelo…
E meu umbiguinho? Quanta insegurança, sempre querendo agir certo no cuidado e quanto cuidado…
Eu vestia, calçava, comia o melhor que nossa família podia… mas você ficava preocupada se o leitinho e a fralda dariam para aquele mês todo, aquela semana ou aquele dia. Mas Deus nunca deixou faltar nada… até hoje é assim, não é mesmo?
Deixou de fazer muita coisa por você… a vaidade com seus cabelos, suas roupas… ficaram para trás. A maternidade traz um afeto que constrange… é estranho como se aprende a viver para o outro…


Ah mamãe… Houve dias difíceis e de muito choro. Choro no silêncio, no escuro, no banho… lágrimas que desciam, mas não eram minhas, eram suas… Situações estreitas que você ou, papai ou, vocês aram…
Muitas vezes, enquanto eu estava acomodado (a) no meu bercinho, no aconchego… você caminhava suspirando para o quintal e olhava as estrelas, as nuvens e falava com Deus em pensamento… ELE ouviu, ELE sempre ouve. A tristeza, a preocupação, a sua sobrecarga… logo era e é substituída pelo amor e a fé…
O meu primeiro olhar, meu sorriso, o sentar, o engatinhar de bundinha e de ré. Memórias guardadas com carinho como o meu primeiro dentinho, meu corte de cabelo e minhas unhas… essas coisinhas que ainda estão guardados na caixinha…visíveis, invisíveis.
E a minha primeira palavra? Interessante que não falei mamãe primeiro, mas você sabe que até hoje é a palavra que não sai da minha boca. Toda hora… todo instante… MÃEEEEE!!!


Sabe mãe, me desculpa se falo “mais que a boca”, um pouquinho ou quase nada… Se pareço desatento (a), preguiçoso (a), desajeitado (a) e não paro quieto… É que… ainda estou aprendendo… e sei que algum dia serei e terei todas qualidades como você.
Porque você é a razão da minha existência. Sou fruto do seu ventre.
Lembra mãe quando a primeira vez que levei uma chinelada… quando ficou muito brava! Você chorou tanto depois… mais do que eu. Doeu em você, muitas coisas doem em você…
Está tão gostoso, quentinho aqui, nas nossas lembranças… contudo, agora, você precisa sair… fechar a porta do quarto… porque você tem muitas coisas para fazer. Sempre tem muuiittasss coisas para fazer…


Sabe mãe, que a sua recompensa possa estar na terra ou no céu… porque você pertence a realeza, a nobreza… Ah! E, antes de você sair… não posso deixar de contar mais uma coisa: é que todo o dia eu peço a Deus que ao abrir meus olhinhos eu fale “Mãeee!!!” E você esteja lá e que eu escute o som do outro lado…
Queeeee!? Já estou indo!”.

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