Nem tudo é Racismo … 6v1n1j

Gabi Lourenço - ajuda empresários a zerar a rotatividade de colaboradores e formar equipes de sucesso através de metodologia exclusiva.

… As vezes pode ser apenas uma maneira torpe de fazer sobressair uma superioridade que nem sequer existe. Eu morava em Ribeirão Preto, capital nacional do agronegócio, um polo comercial que não deve nada para as grandes capitais, e um dos mais importantes polos de saúde do país. Isso tudo, embora seja uma cidade bairrista e com comportamentos aquém do que se espera de uma metrópole regional. Mas em 2019, algo incrível aconteceu, tive um privilégio que realmente é algo exclusivo e para poucos em nosso país.
Era uma terça-feira por volta das 23 horas, eu havia terminado de ministrar um treinamento corporativo. Após dar atenção aos participantes, tirar fotos e guardar os equipamentos, fiz o checkout e fui embora. Ao chegar ao meu apartamento, cansada, ainda precisava comprar algo para comer e bem perto há uma unidade do Habbib’s que, na época, ficava aberta 24 horas, e fui até lá. Ao chegar, havia uma viatura da PM e era normal muitos profissionais que trabalham a noite fazerem refeições no local. Então, fiz minha refeição, paguei a conta e notei que a viatura da PM permanecia no mesmo lugar, mas bastou que eu saísse para darem partida no carro, e conforme eu ia ando pelas ruas, eles davam voltas no quarteirão e me acompanhavam, foi assim, até chegar ao meu endereço. E quando cheguei, eles diminuíram a velocidade, quase parando, como se quisessem uma confirmação de que eu realmente morava naquele local, talvez porque nunca tenham visto uma pessoa como eu morando num bairro como aquele, e depois, eu poderia muito bem ter confundido a minha própria residência, quem nunca se confundiu?
O fato é que fui escoltada pela polícia para que chegasse em segurança, e pela primeira vez eu vi valer cada centavo dos impostos pagos. O problema é que quando comentei com uma amiga o que havia acontecido, ela ficou indignada, porque nunca teve esse mesmo privilégio, e chegou a questionar o que me faz diferente dela para merecer um tratamento especial. Pensei em dizer que era o meu carisma, a minha simpatia… mas resolvi dizer logo a “verdade”, que a escolta particular só aconteceu por conta da meritocracia.
Bem, esse fato que acabo de narrar com leveza e bom humor, apenas evidencia que o racismo é algo instituído em nossa sociedade e que está muito longe de ter um fim, aliás, preciso deixar dois pontos bem claros em relação a isso:
Em primeiro lugar, quando falamos sobre algo tão sério quanto o racismo, vejo algumas pessoas brancas se ofendendo, como se estivéssemos acusando toda a classe desse mal, e não é isso que acontece, aliás, justiça seja feita, infelizmente existe pessoas negras, que acabam indo além da realidade sobre esse assunto, e esse, definitivamente, não é o meu caso. Quero deixar claro que a maioria das pessoas brancas são isentas de qualquer tipo de preconceito e discriminação, mas essas pessoas precisam se posicionar, ou são contra os racistas ou estão ao seu lado, e, portanto, são coniventes.
E em segundo, o racismo não vai acabar só porque queremos que ele acabe, simplesmente porque racismo é algo cultural, e cultura são comportamentos, hábitos, crenças, que para uma pessoa, ou um grupo delas, é fácil desenvolver novos comportamentos e mudar paradigmas, mas para um planeta com bilhões de habitantes, é um processo muito lento, que ainda vai demorar algumas décadas para um resultado ainda mais significativo, embora já tenhamos avançado bastante.
Mas Gabi, se você está dizendo que ainda vai levar décadas para uma melhora significativa, o que os negros podem fazer para contribuir com essa melhora? A resposta é muito simples: ocupar espaços. Sendo mais específica, ao invés de questionar porque não há negros ocupando uma posição tal, seja esse negro a ocupar essa posição. Ninguém vai nos dar nada só porque somos negros, porque fomos escravizados, ou porque alguns de nós estão em desvantagem, nós temos que buscar a diferença e conquistar. E sim, vai ter casos que você vai precisar ser bom ou boa duas vezes mais para ocupar determinada posição, seja três. Também é interessante que você frequente lugares “improváveis”. Uma vez, fui convidada para uma reunião do Rotary em Ribeirão, onde um amigo, que é associado iria palestrar. Aquele clube é o mais elitizado da cidade, e claramente eu era a pessoa “menos favorecida” daquele lugar. Mas se eu quero ser águia, preciso estar no meio delas, então não me intimidei, coloquei uma vestimenta à altura e me fiz presente. Tiveram olhares tortuosos? Claro que sim, principalmente porque tenho alopecia, fiz um procedimento capilar errado quando alisava o cabelo, e tive que assumir esse corte raspado nas laterais e na nuca, o que chama bastante a atenção. Mas aí é que está o ponto chave, se eu continuo frequentando o mesmo local, e da primeira vez cinco pessoas sorriram para mim, da próxima vez serão dez pessoas, e depois quinze, até que não serei mais uma estranha. Então ocupe o seu espaço, se mostre para o mundo, mostre o seu trabalho, se faça presente onde as pessoas não estão esperando por você.
Não vou dizer que é fácil essa jornada e que tudo são flores, porque estaria mentindo. No trabalho, por exemplo, existirão pessoas que irão contratar seus serviços desde que possam definir o quanto estão dispostos a te pagar, independente do seu nível, do seu intelecto, da sua qualificação, e do quanto você se preparou para ocupar esse lugar. Vamos lá, tenho 20 anos de carreira em treinamento de colaboradores, formo equipes e desenvolvo uma cultura organizacional colaborativa, criei uma metodologia exclusiva à partir do meu know-how para diminuir a rotatividade de funcionários, o que faz com que as empresas deixem de perder dinheiro com turnover elevado e retrabalho anualmente, e claro, além da formação, tenho duas pós-graduações. Quando esse desrespeito acontece, chego a pensar que a ofensa só possa ser racismo, já que as pessoas atrasadas tendem a acreditar que os negros merecem receber menos pelo seu trabalho, mesmo sendo um trabalho tão primoroso quanto o de uma pessoa branca, mas sempre me lembro de um dos maiores violinistas do mundo, Joshua Bell, que em 2007, tocou em uma estação de metrô de Washington com um violino avaliado em mais de 3 milhões de dólares em horário de pico e foi ignorado por quase a totalidade das pessoas, isso aconteceu três dias após fazer um concerto em Boston para um público seleto e ingressos caríssimos. Então devo concluir que apenas estava “tocando violino” no lugar errado e para um público que sequer conhece verdadeiramente o meu trabalho e tudo o que posso proporcionar para a empresa, porque afinal de contas, nem tudo é racismo.

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